quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O mistério do mundo - Fernando Pessoa

(foto de: Caroline Pinheiro)
O mistério do mundo,
O íntimo, horroroso, desolado,
Verdadeiro mistério da existência,
Consiste em haver esse mistério.
...

Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério.

...

Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar
...

Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.

...

Quanto mais claro
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
Menos me sinto compreendido.
Ó horror paradoxal deste pensar...

...

Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n’alma essa alegria!

Fernando Pessoa


De facto, achei este poema muito interessante, quando acabei de o ler.
Meu Deus, Pessoa... Como te reprimias e te desvalorizavas...
Sentias-te inútil, vazio...
Enfim...

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Scream